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É irresponsabilidade fiscal falar só da isenção, afirma secretário sobre PL do Imposto de Renda



Foto: Washington Costa/Ministério da Fazenda/Arquivo
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan 21 de março de 2025 | 21:02

É irresponsabilidade fiscal falar só da isenção, afirma secretário sobre PL do Imposto de Renda

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse que é “irresponsabilidade fiscal” defender só a isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5.000 e não a compensação, que cria um imposto mínimo de 10% para rendas acima de R$ 50 mil por mês.

“É irresponsabilidade fiscal falar só da isenção, não faz justiça por inteiro. Precisamos avançar com as duas pernas da proposta”, disse em entrevista ao programa Poder em Pauta da Carta Capital realizada nesta sexta-feira (21).

“Quem está defendendo que fazer isenção e ponto resolve, essa pessoa está considerado que vai ter desfalque para o SUS [Sistema Único de Súde], para a Farmácia Popular, para o Pé-de-Meia. A gente não vai fazer debate fiscal, fiscalmente estamos equilibrados”, acrescentou.

A declaração foi dada ao ser questionado sobre um pronunciamento do senador Izalci Lucas (PL-DF) que criticava a parte da proposta que cria a tributação mínima para alta renda.

Quanto à posição do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), sobre a possibilidade de buscar outras maneiras de compensar a isenção de salários até R$ 5.000, ele ressaltou a importância de ter compromisso com a responsabilidade fiscal.

“Motta está dizendo que tem compromisso com responsabilidade fiscal. Se ele tem esse compromisso e está favorável, é metade do caminho que estamos de acordo e aí tem que discutir a compensação. O trabalho que nós fizemos aqui no Ministério da Fazenda e no governo foi apresentar melhor solução possível”.

Durigan acredita que, com a escolha de bons relatores, é possível aprovar a medida ainda no primeiro semestre na Câmara dos Deputados. No Senado, continuou, a aprovação seria no início da segunda metade do ano.

“Estou muito confiante de que vamos avançar com essa medida. A primeira coisa a ser feita é abrir diálogo com Congresso e pedir que relatores desse tema tenham liderança dentro do Congresso, conheçam minimamente o tema, sejam comprometidos com justiça social e tenham experiência em lidar com tema tributário”, analisou.

“Tendo bons relatores e inaugurando diálogo produtivo, no qual vai avançando com boa vontade, o cenário de aprovação na Câmara é até meio do ano e no Senado no começo do segundo semestre”, avaliou.

Lucas Marchesini/Folhapress



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Isenção do IR passará, difícil é fazer super-ricos pagarem, diz Haddad



Foto: Reprodução/YouTube
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) 21 de março de 2025 | 21:30

Isenção do IR passará, difícil é fazer super-ricos pagarem, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira (21) que o projeto de lei do governo que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5.000 por mês será aprovado pelo Congresso, mas admitiu que é difícil compensar a perda de arrecadação.

“Vai passar. O problema não é a medida em si, tanto é que todo mundo prometeu. O presidente Lula está cumprindo. O antecessor dele prometeu e não mandou. Por quê? A dificuldade é fazer quem não paga pagar para compensar”, disse Haddad em entrevista ao podcast Inteligência Ltda.

Na terça-feira (18), o governo Lula apresentou ao Congresso a criação do imposto mínimo, que será cobrado de pessoas com ganhos a partir de R$ 600 mil anuais (o equivalente a R$ 50 mil mensais). A alíquota será progressiva, até atingir o patamar máximo de 10% para quem ganha a partir de R$ 1,2 milhão ao ano.

O ministro disse que a isenção é aprovada por grande parte da população, e por isso será difícil um deputado se posicionar contra na Câmara.

“Foi promessa do Bolsonaro. Ele só não cumpriu, mas ele prometeu. Ou seja, vai ser muito difícil para o PL, que é o partido do Bolsonaro [votar contra]”, disse Haddad. “O que a gente combinou que não vai poder é dar o benefício sem compensação, senão pode dar inflação, pode dar tudo”.

O imposto mínimo proposto como medida compensatória pelo governo tem como alvo 141,4 mil contribuintes pessoas físicas de alta renda que hoje recolhem, em média, uma alíquota efetiva de 2,5% sobre seus rendimentos.

“Vamos chegar a 20 milhões de pessoas isentas. Do outro lado, são 140 mil pessoas que hoje não pagam nem 10% de imposto de renda, contra uma professora de escola pública que paga 10%”.

“Se ela paga 10%, por que um super-rico não paga? Se ele paga 3%, ele complementa 7 [pontos]. Se ele paga 14%, a lei não o afeta”, disse.

O ministro também mencionou o consignado para trabalhadores formais, que começou a ser oferecido nesta sexta.

A nova linha criada pelo governo Lula, batizada de Crédito do Trabalhador, permite empréstimos com juros mais baixos do que os aplicados pelo mercado, tendo o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) como garantia.

“O empregado que tem um vínculo formal pode bater na porta de vários bancos para fazer um empréstimo consignado. Lá atrás, para o servidor público aposentado, foi uma das coisas que mais fez a economia bombar”, disse.

A entrevista ao Inteligência Ltda., com cerca de 5 milhões de inscritos no YouTube, marca a segunda ida do ministro a um podcast no mesmo mês, em um momento de baixa popularidade do governo Lula. Há duas semanas, Haddad participou do Flow.

A formalização do projeto de isenção do IR nesta semana ocorreu quase quatro meses após o anúncio e chega no mesmo momento de outras medidas que beneficiam a classe média, como o consignado para CLT e a liberação do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para quem havia sido demitido e não conseguiu sacar.

Folhapress



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Lula baixa decreto para segurar despesas até a sanção do Orçamento



Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo
O presidente Lula (PT) 21 de março de 2025 | 22:00

Lula baixa decreto para segurar despesas até a sanção do Orçamento

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixou um decreto nesta sexta (21) para segurar despesas enquanto o Orçamento não é sancionado. A medida também dá tempo para o governo definir o tamanho do congelamento de gastos necessário para cumprir a meta fiscal de déficit zero das contas públicas.

O aperto dos gastos é maior do que o que está em vigor desde o início do ano. O decreto limita em 1/18 a execução dos recursos programados por mês pelos ministérios.

Na prática, os ministérios só terão autorização para empenhar (primeira fase do gasto, quando o recurso é reservado para pagamento) apenas 1/18 por mês —cerca de dois terços do que eles habitualmente poderiam gastar se não houvesse a restrição. Hoje, a limitação está em 1/12.

Um auxiliar do presidente Lula, que participou da JEO (Junta de Execução Orçamentária) do governo, disse à reportagem que o aperto nas despesas é um importante sinal de compromisso fiscal.

O governo já previa a necessidade de fazer bloqueios em despesas assim que o Orçamento fosse aprovado para acomodar a pressão de gastos subestimados na proposta orçamentária, como os previdenciários. A medida é preventiva e ajuda o governo a resguardar os recursos necessários para posterior bloqueio.

O decreto de Lula foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União. A restrição provisória deverá ser de até R$ 128,4 bilhões até maio, segundo o Ministério do Planejamento e Orçamento, e de até R$ 69,5 bilhões até novembro.

O controle mais rigoroso dos gastos não afeta despesas obrigatórias, como pagamentos de salários e benefícios previdenciários. Vale somente para os gastos discricionários, como são chamadas as despesas de custeio e investimentos.

A votação da LOA (Lei Orçamentária Anual) para 2025 atrasou. Deveria ter sido concluída até dezembro, mas foi postergada por brigas políticas decorrentes da suspensão do pagamento de emendas parlamentares. Após acordos envolvendo a cúpula do Congresso e a recém-empossada ministra da SRI (Secretaria de Relações Institucionais) Gleisi Hoffmann, a peça orçamentária foi aprovada na quinta (20) à noite.

O atraso afetou também o relatório de avaliação bimestral, por meio do qual o governo avalia a execução do Orçamento e define se há ou não a necessidade de alguma medida para manter a contas na meta de resultado primário.

O primeiro relatório deste ano seria divulgado nes sábado, 22 de março. Sem a LOA sancionada, o governo não tem base legal para bloquear recursos e, por isso, a avaliação não será divulgada.

O Ministério do Planejamento prevê que, a partir da sanção da lei Orçamentária, um novo decreto será publicado para organizar os gastos do governo de acordo com o que foi aprovado pelo Congresso Nacional.

A pasta prevê que ao longo da próxima semana sejam divulgados detalhes da execução do orçamento.

Fernanda Brigatti/Folhapress



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Em primeiro evento público após saída do BC, Campos Neto vê bancos tradicionais em ‘disrupção’



Foto: Paulo Pinto/Arquivo/Agência Brasil
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central 22 de março de 2025 | 07:15

Em primeiro evento público após saída do BC, Campos Neto vê bancos tradicionais em ‘disrupção’

No primeiro evento público desde que saiu do comando do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto abriu sua fala com uma piada: “Estou feliz que a minha tarefa aqui não é falar sobre política monetária ou fiscal hoje.”

Aos presentes no evento “Brasil em Transição: Estabilidade Macroeconômica, Desafios Climáticos e Progresso Social”, promovido pela XP Private Bank com a Miami Herbert Business School, o ex-presidente da autarquia deixou o balanço de riscos da economia brasileira de lado para falar sobre transformação financeira no mundo das moedas digitais.

“Minha maior previsão é a de que bancos tradicionais serão profundamente abalados por bancos de plataformas digitais. É um processo que já está acontecendo e que vai acelerar nos próximos dois anos”, disse Campos Neto em um auditório da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, citando Nubank, Mercury e Revolut como exemplos de ganhos de mercado.

A previsão se sustenta na capacidade de um banco digital oferecer serviços tecnológicos a um custo “muito mais baixo” do que o das instituições tradicionais, o que irá se traduzir “em um custo mais baixo de atração e retenção de clientes”. O movimento já está em curso no Brasil e em outros mercados emergentes, com a crescente digitalização dos sistemas financeiros daqui contrastando com serviços agora datados de países ricos.

“Pela crescente digital, os emergentes são mais evoluídos. Ainda se usa talões de cheque nos Estados Unidos”, diz ele.

O processo todo é descrito por Campos Neto como “disrupção”. Segundo ele, o surgimento de métodos de pagamento instantâneo como o Pix –gestado e implementado enquanto ele esteve à frente do BC– está fazendo com que a “parte transacional” dos bancos valha cada vez menos. Isto é, serviços de crédito e débito podem perder espaço global conforme a tecnologia avança, como tem ocorrido no Brasil.

“O Pix pode ser por aproximação. Eventualmente, terá funções de cartão de crédito. Pagamentos instantâneos estão mudando a forma com que os bancos transacionais funcionam”, diz ele.

Ele ainda afirma que plataformas digitais terão mais facilidades em uma eventual internacionalização dos sistemas financeiros. A “disrupção” do modelo bancário tradicional, neste ponto, virá do crescimento de bancos globais, capazes de realizar pagamentos transfronteiriços.

O ex-presidente do BC ainda enfatizou a importância de dados abertos e sistema financeiro aberto (open data e open finance, nos termos em inglês) para “reduzir a assimetria de informação”. Na análise dele, os mecanismos permitirão que os consumidores tenham mais controle sobre os próprios dados e comparem serviços de diferentes instituições conforme suas necessidades.

Ele também justificou o argumento com a tendência de “programabilidade do dinheiro”, um conceito que envolve a criação de moedas digitais programáveis como CBDCs (moedas digitais de bancos centrais) e stablecoins (criptomoedas lastreadas em moedas do mundo real, como o dólar). Exemplo disso é o Drex, a versão digital do real no Brasil. A existência de moedas digitais emitidas por autoridades monetárias também será um fator de disrupção para o sistema bancário tradicional.

Em um futuro próximo, Campos Neto ainda disse enxergar a existência de uma única plataforma integrada. “Você não terá no seu celular um aplicativo do banco A, B ou C. Veremos esses mercados de finanças em um único aplicativo com todos os seus dados, e você poderá migrar suas informações para diferentes instituições e comparar produtos financeiros a preços mais baratos”, afirmou.

Essa foi a primeira aparição pública do ex-mandatário do BC desde que deixou o cargo, em 31 de dezembro do ano passado. Ele recebeu autorização para dar palestras neste primeiro semestre, desde que não compartilhe informações sigilosas obtidas durante a passagem pelo setor público. Campos Neto ainda deve cumprir quarentena até junho sem prestar serviços ao setor privado.

Tamara Nassif/Folhapress



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Justiça tributária: mudança no IR pode reduzir desigualdade no Brasil



Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Arquivo
Mudança no IR pode reduzir desigualdade no Brasil 22 de março de 2025 | 09:30

Justiça tributária: mudança no IR pode reduzir desigualdade no Brasil

O projeto de lei (PL) que prevê a isenção do imposto de renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação de pessoas que recebem mais de R$ 50 mil por mês, se aprovado pelo Congresso Nacional, aproxima o Brasil do sistema tributário de países mais igualitários, como França e Alemanha. A avaliação é da professora de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Clara Zanon Brenck.

“Países mais igualitários, como os mais desenvolvidos da Europa, tendem a tributar de maneira mais progressiva. O Brasil, fazendo essa mudança, vai se aproximar desses países”, disse à Agência Brasil.

Na última terça-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao Congresso o PL. Além de isentar do imposto de renda o trabalhador que recebe até R$ 5 mil mensais, o texto cria descontos na tributação para a faixa entre R$ 5 mil e R$ 7 mil.

Em contrapartida, a proposta cria alíquota de cobrança de imposto para pessoas com renda superior a R$ 600 mil anuais – média de R$ 50 mil mensais. Essa cobrança dos mais ricos proporciona o que os especialistas chamam de neutralidade fiscal, ou seja, o que o governo deixará de arrecadar das pessoas com menores renda será compensando cobrando dos ricos.

Nas contas do Ministério da Fazenda, 10 milhões de brasileiros vão parar de pagar IR, o que representa uma renúncia fiscal prevista em R$ 25,84 bilhões.

Esse valor será compensado com a cobrança de imposto de 141,3 mil pessoas. Na base de cálculo da renda desses contribuintes serão incluídos rendimentos atualmente isentos, como dividendos (distribuição de lucros de empresas).

Ainda segundo a Fazenda, nove em cada dez brasileiros que pagam IR terão isenção total ou parcial. Dos declarantes do IR, mais de 26 milhões (65%) não vão pagar nada. Já a tributação sobre altas rendas atingirá 0,13% dos contribuintes e 0,06% da população.

Justiça tributária
A economista Clara Brenck explica que justiça tributária é a ideia de que “quem recebe mais vai pagar mais proporcionalmente à sua renda”.

Ela exemplifica que, se uma pessoa recebe R$ 5 mil e paga R$ 500 de imposto de renda, isso representa 10% da renda. Se uma pessoa que ganha R$ 500 mil paga R$ 50 mil, isso também representa 10%, e é um caso em que não há justiça tributária.

“Você tem as pessoas pagando o mesmo tanto de imposto, independentemente da sua renda”, aponta a professora, que também é pesquisadora do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo ela, ao lado de políticas de distribuição de renda, a justiça tributária é um elemento “muito importante” para a redução da desigualdade de um país.

Cobrança no topo
Para a professora, as mudanças propostas caminham para redução da desigualdade, mas ainda não são suficientes. Cálculos do Made apontam maior efetividade caso a alíquota dos ricos ficasse próxima de 15%. Isso faria com que os mais ricos e a maior parte da população que paga imposto sentissem no bolso a mesma carga tributária efetiva ─ o que a pessoa realmente paga de imposto no fim das contas.

Ao defender a proposta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem demonstrado que a alíquota efetiva da classe média é de cerca de 10%.

“O grande mérito dessa proposta é que ela abre uma avenida para a gente discutir justiça tributária”, afirmou Haddad na quinta-feira (20), em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, transmitido pelo Canal Gov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

A professora Brenck avalia que é adequado determinar o piso de renda de R$ 50 mil mensais como alvo da tributação progressiva, mas acha que não são necessariamente super-ricos. “A gente não pode chamá-los de super-ricos”, diz, antes de emendar: “é mais do que justo essas pessoas passarem a pagar mais e ir aumentando progressivamente”.

Outro fator que impede mais igualdade, diz a professora da UFMG, é a tributação indireta, que faz com que consumidores paguem imposto na hora de comprar produtos e serviços. Isso faz com que pessoas de baixa renda paguem, proporcionalmente, mais imposto que os ricos.

Clara Brenck afirma que a primeira parte da reforma tributária, que unificou tributos e teve a regulamentação sancionada no começo deste ano, não resolveu o problema pelo fato de os dois temas terem sido tratados separadamente.

“A partir do momento em que você separa a reforma indireta da reforma da renda, você mantém a proporção da reforma indireta na carga tributária total, e é esse o problema”, avalia.

“Tinha que mexer nessa composição do quanto [da arrecadação] que vem do imposto direto da renda e quanto que vem do indireto. Fazendo as duas reformas separadas, você não consegue mudar as proporções”, complementa.

A economista defende também que haja, ao longo do tempo, a correção pela inflação do valor das faixas de renda que sofrem a tributação. “Para continuar atingindo os estratos de renda que a gente quer. O que chamamos de super-ricos hoje vai ser diferente daqui a 10 anos”.

Desigualdade de renda
No Brasil, a renda dos 10% mais ricos é 14,4 vezes superior à dos 40% mais pobres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O esforço para reduzir a desigualdade é uma das bandeiras do governo para convencer o Congresso a aprovar o projeto de lei.

“Nós figuramos entre as dez piores distribuições de renda do mundo. É isso que nós temos que explicar para a sociedade. O Brasil está entre os dez países com pior distribuição de renda do mundo”, citou Haddad no Bom Dia, Ministro.

“Tem muita gente que tem renda que concorda com a justiça social. Não é porque a pessoa tem renda que ela vai deixar de votar em um projeto justo. Você pode ter certeza, muita gente ali [representada no Congresso], empresário, fazendeiro, vai votar a favor desse projeto porque sabe que ele é justo”, espera.

Tramitação
O texto enviado pelo governo ao Congresso passará a valer se for aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado. Nesse caminho, a matéria pode sofrer alteração por parte dos parlamentares.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que o Congresso terá a sensibilidade para ver o alcance social da proposta, mas não descartou alterações no sentido da melhoria das medidas.

O analista da Tendências Consultoria, João Leme, disse à Agência Brasil que o PL “pode ser considerado um avanço em termos de justiça tributária” e corrigir algumas distorções próprias da dinâmica brasileira, como o fato de os estratos mais ricos terem a maior parte da renda isenta, como no caso de dividendos.

Mas ele adverte que há o risco de, no Congresso, não haver a aprovação da parte que trata da tributação dos mais ricos.

“Há risco de que esses mecanismos de contrapartida fiscal acabem sendo diluídos ou excluídos durante a tramitação legislativa, o que tornaria a medida um tiro no pé, dado que o custo fiscal não seria propriamente equalizado, aumentando a incerteza fiscal, deteriorando expectativas e complicando o frágil equilíbrio político e econômico do governo”, analisa. “A expectativa é que as equipes de articulação do governo pressionem pela manutenção desses contrapesos”.

Extremos da pirâmide social
O pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado ao Ministério do Planejamento e Orçamento, considera que a parte mais importante e desafiadora do PL é fazer com que os que ganham mais de R$ 50 mil mensais em média passem a pagar mais imposto.

Para ele, tornar a tributação mais progressiva, sem tantas isenções e desonerações para os mais ricos, é essencial para a redução das desigualdades, de forma “que permita ao país cumprir um de seus objetivos fundamentais estabelecidos no Artigo 3º da Constituição Federal de 1988, que é reduzir as desigualdades sociais e regionais”.

Hecksher, especialista em desigualdade de renda, adverte que a proposta governista beneficia diretamente “quem está no meio da distribuição de renda, não na base”. Dessa forma, ele chama atenção para a parte do Orçamento dos governos dedicada a programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

“A redução das desigualdades de renda realizada de 2001 a 2014 foi muito concentrada em aumento de gasto público destinado aos mais pobres”, cita.

Bruno de Freitas Moura / Agência Brasil



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