Desde criança, o escultor baiano Wesley Souza, de 28 anos, dá forma e identidade ao barro. Filho de ceramista, começou a modelar argila aos cinco anos nas olarias de Maragogipinho, distrito de Aratuípe, no Recôncavo Baiano, onde descobriu o caminho que o levaria a ter uma de suas peças selecionada como presente para a cantora Maria Bethânia.
A peça é uma representação de Iansã, orixá da qual Maria Bethânia é filha. A escultura chegou às mãos da artista na Concha Acústica de Salvador, no sábado (15), durante a turnê que celebra seus 60 anos de carreira, em um gesto conduzido pelo governador Jerônimo Rodrigues e o secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro. Na mesma noite, a cantora recebeu a ordem 2 de Julho – Libertadores da Bahia, símbolo pelo reconhecimento de quem atua pela liberdade e direitos do povo baiano.
A obra entregue a Bethânia foi adquirida pelo secretário de Cultura durante o Festival de Cerâmica de Maragogipinho, distrito reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como o maior polo de cerâmica artesanal da América Latina. “Quando o secretário contou, fiquei sem reação. Maria Bethânia é uma pessoa sensacional. Fiquei muito feliz, até agora estou sem acreditar”, contou Wesley, que se dedica à produção de artes afro-brasileiras.
Em vídeo publicado nas redes sociais, o secretário Bruno Monteiro explica a Bethânia que conheceu e se encantou com o trabalho do jovem ao visitar o festival no dia anterior. A cantora recebeu a obra com carinho, observando os detalhes da escultura e demonstrando encantamento. “Muito bonita, que peça linda! Um presente lindo, trabalho maravilhoso”, disse a artista.
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Para Bruno Monteiro, unir a arte de Wesley Souza ao encontro com Maria Bethânia simboliza a potência das conexões culturais do estado. “Me sinto muito honrado em ser a ponte entre o jovem artista de Maragogipinho, Wesley Sousa, e a menina dos olhos de Oyá. Uma poderosa conexão de arte, festa, amor e devoção que só a Bahia proporciona”.
Ancestralidade – Wesley cresceu envolvido pela força espiritual que atravessa a cerâmica produzida em Maragogipinho e seu trabalho se consolidou na criação de artes afro-brasileiras, especialmente esculturas de orixás. A modelagem das entidades surgiu como expressão natural do vínculo que acompanha sua trajetória. Criação em seu trabalho vai além da técnica, é um retorno às origens.
“É legal poder expressar nossa ancestralidade através do barro. Minha avó era ialorixá, acredito que essa foi a forma de orixá me trazer para as minhas raízes. Só tenho a agradecer aos orixás por sempre me darem direcionamento e abrirem os meus caminhos”, contou.
O trabalho de Wesley é totalmente artesanal e, atualmente, sua principal fonte de renda. Cada escultura leva de 15 a 20 dias para ficar pronta, passando por modelagem, secagem e queima. “Vivo da arte. Quando fazemos algo com amor, as coisas fluem de forma diferente, mas quem molda isso e está o tempo todo comigo nesse processo é a minha ancestralidade. Espero que minha arte ancestral possa servir de inspiração”.
Festival de Cerâmica de Maragogipinho
A escultura de Iansã surgiu em um dos eventos mais importantes para valorizar o trabalho das artesãs e artesãos da região. O Festival de Cerâmica de Maragogipinho é realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) e da Coordenação de Fomento ao Artesanato (CFA), em parceria com a Prefeitura de Aratuípe e instituições culturais.
Entre os dias 14 e 16 de novembro, o distrito recebeu a terceira edição do festival, que este ano destacou o tema “A força da mulher no artesanato de Maragogipinho”. A programação reuniu 40 estandes da Feira do Artesanato da Bahia, feira gastronômica, apresentações musicais de Olodum, Filipe Escandurras e Jorge Vercillo, além da presença de referências históricas da cerâmica local.
Fonte: Ascom/Secult-BA
