Uma pesquisa científica pioneira realizada pela doutora Manuela Barreto, pesquisadora do Centro Tecnológico Agropecuário da Bahia (CETAB), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), foi premiada como a melhor tese de doutorado na área de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Bahia e projeta a Bahia como referência em inovação tecnológica.
O estudo investigou o potencial nutritivo do mel de cacau, desenvolvendo técnicas para aumentar seu tempo de prateleira e valor de mercado. Foi analisado a caracterização físico-química de quatro variedades de cacau cultivadas na Bahia: CCN51, PS1319, SJ02 e Parazinho. As três primeiras, híbridas, apresentaram melhor rendimento e maior presença de compostos aromáticos frutados e adocicados, além de concentrações elevadas de minerais como zinco e magnésio.
Frequentemente descartado durante o beneficiamento das amêndoas, o mel de cacau representa uma oportunidade econômica significativa para os produtores rurais. “Esse líquido extraído da polpa do fruto antes da fermentação pode se tornar uma importante fonte adicional de renda para o setor”, explicou a pesquisadora.
Pesquisa pioneira
Um dos principais desafios do mel de cacau sempre foi a perecibilidade que envolve um curto tempo de prateleira. A pesquisa testou diferentes métodos de conservação e identificou a tecnologia de ultrassom de alta intensidade como a mais eficiente para preservar as características do mel, aumentar sua durabilidade sem conservantes químicos e tornar o processo mais sustentável.
Com o uso do ultrassom, a Drª Manuela desenvolveu uma solução para ampliar a vida útil do produto, sem comprometer sabor ou nutrientes. O estudo também comprovou o valor nutricional e sensorial do mel, destacando seu potencial como ingrediente funcional para a indústria alimentícia. Dessa forma, o trabalho abre caminho para que o mel de cacau se torne um novo item competitivo no mercado agroindustrial.
A pesquisa demonstrou ainda que a extração adequada do mel, sem comprometer a fermentação das amêndoas, permite diversificar a produção e agregar valor à cadeia produtiva. Entre as possibilidades de uso industrial estão bebidas finas, cosméticos e suplementos energéticos, o que fortalece a economia regional e cria novas oportunidades para pequenos produtores e indústrias.
“As variedades analisadas são amplamente cultivadas na região, o que reforça o potencial prático dos resultados obtidos. Algumas se destacam pelo alto teor de minerais, outras pela aceitação sensorial ou pelos compostos fenólicos com benefícios à saúde. Essa diversidade mostra o quanto o cacau baiano ainda tem a oferecer”, destacou Manuela.
Reconhecimento nacional
Filha de produtores rurais do município de Presidente Tancredo Neves, Manuela cresceu acompanhando o pai na produção de cacau e na extração artesanal do mel. Foi lá que ela iniciou seus primeiros testes, transformando curiosidade em experimentação. Os ensaios laboratoriais começaram numa cooperativa local e ganharam força quando foi trabalhar no CETAB. Com isso, Manuela conseguiu unir o saber tradicional à ciência aplicada.
O resultado desse percurso foi reconhecido. Desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sua pesquisa de doutorado foi eleita a melhor tese da área de Ciências Agrárias em 2024. No mesmo ano, ela também recebeu o prêmio de melhor trabalho na área de Alimentos e Bebidas durante a 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, em São Paulo.
“Com esse trabalho, retorno às minhas origens, com uma pesquisa que valoriza o conhecimento do campo e agrega valor à cadeia produtiva do cacau. É fruto de uma trajetória marcada por dedicação, afeto e raízes. Como se aprende na roça: há tempo de plantar e tempo de colher”, afirma Manuela, emocionada.
Inovação e tecnológica sustentável
Para Frederico Rodrigues, um dos pesquisadores mais experientes da instituição, o reconhecimento da pesquisa do mel de cacau representa uma conquista individual que nasce de um esforço coletivo. “O CETAB tem apostado fortemente na qualificação de seus profissionais e na produção de conhecimento aplicado. Essa pesquisa é um marco, pois alia inovação científica a saberes tradicionais, com potencial real de transformar práticas no campo”, afirma.
O Centro também desenvolve estudos em áreas estratégicas, como o controle da mosca-das-frutas, o comportamento higiênico em abelhas e o monitoramento de agrotóxicos em culturas como o tomate. Com publicações em revistas nacionais e internacionais e foco em soluções práticas para o campo, Frederico aponta o CETAB como referência em ciência e sustentabilidade na agropecuária baiana.
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