A reinclusão da língua espanhola na rede de educação básica do estado foi tema do evento “Fica Espanhol na Bahia”, realizado na manhã desta quarta-feira (12), no Auditório Jornalista Jorge Calmon da Assembleia Legislativa. A ação aconteceu em apoio ao Projeto de Lei 25.951/2025, de autoria do deputado Marcelino Galo (PT) e da deputada Maria del Carmen (PT), que dispõe sobre a oferta da disciplina de Língua Espanhola na grade curricular das escolas estaduais.
Abrilhantado por apresentações da cantora baiana Aiace, na abertura, e da cantora argentina radicada na Bahia Cecília Cora Wilson, o evento reuniu professores e amantes da língua espanhola na defesa de que a disciplina volte a ser ministrada no ensino médio, como era antes de publicação de medida provisória, em 2016, e de posterior publicação da Lei 13.415/2017, que reformulou o ensino médio. Eles lamentam que, apesar de defendida pelo governo federal, a reinclusão do ensino do espanhol tenha ficado de fora da Lei do Novo Ensino Médio, após aprovação no Congresso Nacional, em 2024. A expectativa é que a Bahia se torne, agora, protagonista e exemplo ao aprovar uma lei que garanta o ensino da língua, falada em 19 países da América Latina, na sua rede estadual.
“Esse projeto parece natural. Não precisaria a gente fazer esforço para incorporar outra língua. Nós devemos aprender o espanhol e facilitar o acesso dos nossos estudantes. Isso é uma atitude de vanguarda nacional. A Bahia tem que fazer essa demonstração para o resto do Brasil”, disse o deputado Marcelino Galo, em seu discurso.
O petista explicou que a matéria tramitará nas comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviço Público, para então ir a plenário. Também destacou a importância da língua espanhola para o Brasil, que está cercado por países que falam o idioma. “A língua é um instrumento de trabalho, um instrumento que vai possibilitar mais emprego, mas ela vai nos dar acesso ao mundo, a compreender a nossa cultura, a nossa origem latino-americana. Nos integrarmos para construir uma grande pátria latino-americana. E para isso nós precisamos estar afiados, saber falar o espanhol. Então, vamos avançar, aprovar esse projeto”, concluiu o parlamentar.
De acordo com a deputada Maria del Carmen, espanhola radicada na Bahia desde jovem, não é possível ficar sem o ensino da língua espanhola na grade curricular. Ela pôs o seu mandato à disposição da causa.
“É uma luta justa e é de todos aqueles que defendem a cultura. Não podemos entender por que não ter espanhol nesse currículo. Todos os nossos vizinhos falam espanhol, e a gente fica na dúvida sem saber o que aconteceu para que essa língua, a quarta mais falada no mundo, não esteja na nossa sala de aula. O que a gente tem que fazer é aprovar (o PL 25.951/2025), para que (o idioma espanhol) esteja no currículo e seja falado por mais pessoas”, disse a legisladora.
Também à Mesa, a professora Élida Paulina Ferreira, representante do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Santa Cruz, afirmou que retirar o espanhol do currículo é romper pontes com a América Latina. “Defender o ensino de língua espanhola é defender a educação pública, democrática e latino-americana. O espanhol não é uma língua estrangeira qualquer, é o idioma de quase todos os países que nos cercam, é a língua oficial do Mercosul, é também a língua de integração, de ciência, de cultura e trabalho. Retirar o espanhol do currículo é negar aos jovens baianos o direito de participar plenamente das redes culturais, acadêmicas e econômicas do nosso continente”, disse.
A professora explicou que, com a reforma do ensino médio, o espanhol foi praticamente excluído das escolas públicas brasileiras. “Isso empobreceu o currículo, desvalorizou o grande número de professores e professoras de espanhol formados em nosso estado e limitou as oportunidades de formação dos estudantes, sobretudo daquelas regiões mais vulneráveis”, acrescentou.
Presidente da Associação de Professores de Espanhol do estado da Bahia (Apeeba), a professora da Universidade Federal da Bahia Cecília Gabriela Aguirre Souza disse que “o retorno do espanhol à grade de ensino é importante pelo intercâmbio acadêmico, pelo turismo de fala hispana, por devolver dignidade a professores que perderam sua fonte de trabalho ou passaram a ministrar outra disciplina para a qual não se formaram, e também por devolver esperança aos estudantes”.
Diretor do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), o professor Flávio Dias dos Santos Correia defendeu a mobilização pela causa da reinclusão da língua espanhola na grade curricular e destacou o investimento já feito na formação de professores, prontos levar o ensino do idioma nas escolas.
Além dos citados, participaram da Mesa o cônsul do Chile em Salvador, Rubén Delgado, e o professor João Evangelista do Nascimento Neto, diretor do Departamento de Ciências Humanas da Uneb, em Santo Antônio de Jesus.





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